A abordagem é definida por Gisele Domingos do Mar (2006), como uma postura filosófica ou um conjunto de crenças sobre o processo total de ensino e aprendizagem. A autora cita Anthony (1963) que define abordagem como pressupostos teóricos sobre a natureza da língua e sobre o ensino e aprendizagem de línguas.
Almeida Filho (2002), define abordagem como uma filosofia de trabalho do professor o qual traz consigo, mesmo de forma implícita, conceitos a respeito da linguagem, do aprendizado e do ensino de línguas que orientam o planejamento do curso, seleção e análise dos materiais, os métodos empregados no processo de ensino e aprendizado de línguas.
A escolha da abordagem de ensinar uma língua estrangeira é um dos fatores que garantirão o sucesso no processo de aquisição de línguas segundo Prabhu apud Gisele Domingos Mar (2006). O autor destaca que ao se ensinar língua estrangeira é necessário que haja a reflexão consciente a respeito de como o ensino age sobre a aprendizagem e de como isto pode levar a uma compreensão ampla da aquisição de línguas.
Muitos professores se apoiam em diferentes abordagens desejando encontrar soluções mágicas ou imediatas para os problemas do processo educativo, porém, ao se adotar esta ou aquela abordagem é necessário levar em conta as “transformações políticas, sociais, comerciais e culturais que ocorrem nos países e, em um mundo globalizado” (Mar, 2006, p. 177), que exigem um novo posicionamento na hora de planejar um curso.
É necessário, ao se adotar uma abordagem, levar em consideração as transformações citadas por Mar, e também a realidade dos alunos a serem ensinados.
Cada abordagem nasceu de uma filosofia educacional que satisfez as necessidades de uma época, e por esta razão é interessante rever as diferentes tendências utilizadas no ensino de línguas em cada período histórico, para posteriomente realizarmos uma reflexão sobre as abordagens atuais.
A abordagem da gramática e tradução
O método da gramática e tradução surgiu com o interesse pelas culturas latina e grega na época do renascimento sendo utilizado até os dias de hoje. De acordo com Mar (2006) essa abordagem tem por objetivo a transmissão, o ensino da língua culta e esta ocorre predominantemente por meio da leitura, da escrita e tradução de padrões linguísticos normativos. Na antiguidade este método se caracterizava pela leitura e tradução de textos clássicos, porém ainda hoje esta abordagem é utilizada e alguns professores a seguem. É o caso do professor que usa listas de palavras que o aluno deverá memorizar, regras gramaticais que visam a transformação de palavras em frases e exercícios de tradução da língua materna para a língua a ser aprendia.
De acordo a abordagem da gramática e tradução a língua é um conjunto de regras e exceções gramaticais. Percebe-se assim que a concepção que norteia este método pauta-se na língua materna, na memorização de vocabulário descontextualizado, apreensão de regras gramaticais, e apesar desta abordagem ter atendido as necessidades da época na qual surgiu, hoje não tem o caráter prático que é necessário e exigido ao se ensinar a língua estrangeira.
A abordagem direta
O método direto é bem antigo, também, surgido como uma reação ao método da gramática e tradução. As evidências de seu uso datam do seculo XVI. Segundo Sánches Pérez apud Mar (2006) essa abordagem se caracteriza pelo uso da língua estrangeira sempre, nunca se usando a língua materna, para que a imersão ocorra é necessário que o professor seja totalmente fluente na língua estrangeira e bastante dinâmico. Essa dinamicidade ocorre por meio de objetos, gravuras, sem nenhuma referência a língua materna.
Essa metodologia tem como objetivo fazer com que o aluno pense na língua estrangeira e conceba a linguagem como o ensino por meio da língua oral. Porém, apesar de nos dias atuais ser de grande necessidade o domínio da oralidade esta abordagem é difícil de ser trabalhada pela falta de mão de obra qualificada, pois nem todo professor de língua inglesa é totalmente fluente, e pelo fato de caso o aluno não entender determinado vocábulo ou frase continuará com dúvida o que pode ser prejudicial para seu processo de aprendizagem da língua estrangeira. Outro ponto é que a língua materna, em determinados momentos precisa ser utilizada ao se fazer alusão a determinados elementos linguísticos, ou como coloca Gisele Domingos do Mar (2006) ao se fazer à análise contrastiva entre as duas línguas, observando similaridades e diferenças. O que não acontece ao se utilizar esta abordagem.
A abordagem audiolingual
Foi o método surgido durante a II guerra mundial quando o exército americano precisava de pessoas que falassem línguas estrangeiras o mais rápido possível. Entre 1942 e 1945 o exército norte americano desenvolveu vários programas de línguas para efetivar o processo de compreensão e expressão oral nas línguas estrangeiras.
Martins Cestaro em seu artigo O Ensino de língua estrangeira: História e metodologia, afirma que esta abordagem não trouxe nada de novo para o ensino de línguas, porém o sucesso foi tão rápido que diversas universidades e escolas adotaram-na.
A abordagem audiolingual concebe a linguagem de forma que aprender é formar hábitos linguísticos de repetição. Nesta metodologia diálogos são trabalhados, repetidos e memorizados e exercícios de repetição, substituição e transformação são realizados. Os vídeos e livros com cds são características desta abordagem que ainda hoje é muito utilizada.
A abordagem comunicativa
A abordagem comunicativa surgiu em reação ao estruturalismo, que centra-se no aspecto gramatical e ao behaviorismo, caracterizado por reflexos condicionados que moldam o comportamento. Os métodos audioorais e audiovisuais surgidos na década de 50, que focavam na memorização e repetição excessiva caracterizavam-se pela combinaçao destes dois modelos. Passel (1983) define o método audioral como um processo mecânico de formação de reflexos com o objetivo de desenvolver uma série de automatismos em que os erros não podem ser cometidos e não são tolerados. O método audiovisual se fundamenta em um diálogo, o contexto deve ser rico e o assunto é apresentado de forma visual e está intimamente ligado com o signo acústico correspondente.
O movimento comunicativo começou na década de 70, quando o linguista aplicado Wilkins sistematizou uma nomenclatura de funções comunicativas, tópicos, cenários, papéis sociais e psicológicos, além de noções de gramática. Em 1978, pouco tempo após este trabalho Widdowson, outro linguista inglês sistematizou as bases teóricas do movimento comunicativo de ensino de línguas mostrando as diferenças existentes entre ensinar forma gramatical (usage) e uso comunicativo (use).
Johnson apud Tavares (2008) propos critérios básicos para uma metodologia comunicativa, o autor colocou que as técnicas de ensino e prática em sala deveriam atender alguns critérios como: ser relevante enquanto tarefa, transferir informação de um meio para outro, ter um hiato de informação a ser preenchido. De acordo com Richards apud Luciane Guimarães de Paula (2010) o foco na abordagem comunicativa passa a ser a competência comunicativa mais abrangente que a competência gramatical.
Fiorin (2002) cita Chomsky que define competência como a porção do conhecimento do sistema lingüístico do falante que lhe permite produzir o conjunto de sentenças de sua língua. Dessa forma, a abordagem comunicativa contribui para o desenvolvimento dessa competência comunicativa.
De acordo com Almeida Filho (2002) os métodos comunicativos têm em comum o foco no sentido, no significado e na interação entre os sujeitos na língua estrangeira. O ensino comunicativo organiza as experiências de aprender em torno de atividades relevantes e sigificativas para os alunos, para que estes sejam capazes de utilizar a língua alvo em situações em que precisem se comunicar com outros falates-usuários dessa língua. Para isso, esse ensino não pauta-se somente na gramática como modelo para organizar as experiências de aprender a língua estrangeira, embora não descarte a possibilidade de explicitar em sala as regras dos subsistemas gramaticais como pronomes, terminações dos verbos, etc.
Na abordagem comunicativa, a unidade básica da língua, que requer atenção, é o ato comunicativo, ao invés da frase. A função se sobrepõe à forma, e significado e situações é que inspiram a planificação didática e a confecção de materiais. Competência comunicativa passa ser o objetivo em vez do acúmulo de conhecimento gramatical ou da estocagem de formas memorizadas. (Schütz, 2007)
O que caracteriza os métodos comunicativos é a enfase maior na produçao de significados do que na gramática. O professor promoverá procedimentos para que o aluno pense e interaja na língua alvo sistematizando conscientemente a nova língua. Porém, é importante lembrar que é necessário haver o input, o armazenamento de determinados vocábulos ou de acordo com Abreu e Lima (1996) a informação a que um indivíduo fica exposto, seja ela de forma escrita ou oral. A autora cita Krashen (1985) que destaca que o input promove a aquisição de língua e deve ser um ponto trabalhado em sala pelo professor. Após a fase do input ocorrerá o output que é a fala, a capacidade de se comunicar na língua estrangeira ambos os processos não acontecem simultaeamente. Primeiro armazeno um vocabulário para depois fazer uso dele. Por isto é importante ouvir diálogos, conversas filmes e músicas na língua inglesa. Como destacam Abreu e Lima.
Ninguém começa a escutar e entender uma língua de um dia para outro. Isso é verdadeiro tanto para a primeira como para a segunda língua, e especialmente para a língua estrangeira Há um processo de desenvolvimento no indivíduo, psicológico e linguístico que o leva ser capaz de compreender as mensagens que lhe são dirigidas Esse processo ocorre tão mais rapidamente quanto maior for o tempo que o indivíduo tiver sido exposto à língua. Nesse processo de aquisição, existirá um momento no qual o indivíduo passará, quase que de forma mágica a entender tudo que lhe é dito (ABREU; LIMA, 1996, p. 79).
O input foi trabalhado em sala através de seriados, filmes e músicas em que a compreensão foi feita inicialmente sem a letra da música impressa em inglês ou do diálogo do seriado ou filme e posteriormente observando-se a forma impressa.
Brown (2000) apresenta algumas características da abordagem comunicativa.
Hyme (1972) sugere que a comunicação deve ser considerada em seu conjunto e não sob o aspecto linguístico apenas. Ao lado da competência gramatical deve haver a competência de uso. Para haver comunicação não basta conhecer apenas a língua, é preciso saber utilizá-la em cada contexto. Geraldi (1996) coloca que saber comunicar-se significa ser capaz de produzir enunciados lingüísticos em cada situação de comunicação e em cada intenção de comunicação (pedir permissão, por exemplo). O essencial de uma competência de comunicação reside, portanto, nas relações entre estes diversos planos ou diversos componentes.
Venturi (2007) afirma ainda que há determinados componentes de competência de comunicação que seriam: a competência linguística, que será o desempenho do estudante na língua a ser aprendida; a competência sociolinguística que é a possibilidade de utilizar enunciados adequados a determinadas situações; a competência discursiva que refere-se a diferenciação dos tipos de discursos e da linguagem oral e escrita; a competência referencial que trata dos elementos referenciais para a compreensão de determinada situação comunicativa e a competência estratégica que refere-se a compensação das falhas de competência linguística e sociolinguística. Martins Cestaro cita Sophie Moirand (1982), que afirma que a competência comunicativa pressupõe a combinação de vários componentes: lingüístico, discursivo, referencial e sócio-cultural.
A comunicação decorre de uma situação de interação, para que a apendizagem de uma nova língua ocorra é necessário o uso desta. A partir de situações comunicativas significativas na língua a ser aprendida os aprendizes descobrem as regras linguísticas e sociolinguísticas.
Kock (1997) destaca algumas particularidades da interação entre indivíduos como, por exemplo, o texto falado é relativamente não planejavel de antemão devido ao seu aspecto interacional, por esta razão ele é localmente planejado, isso significa que não adianta o aluno memorizar frase prontas pois nem sempre elas poderão ser utilizadas isoladamente sendo necessario um complemento, dependendo do contexto. Por exemplo, alguém pergunta: Can you turn on the light? (você pode acender a luz?) Assim como pode-se responder yes também pode-se responder I am reading (Eu estou lendo). Se o aluno aprender a responder mecanicamente não se atentando para o fato acima acitado por Kock ele estará preso ao yes. Acrescenta-se ainda o que a autora coloca a respeito das descontinuidades no fluxo discursivo advindas de uma série de fatores de ordem cognitiva/interativa e que o fato acima exemplifica bem.
É por esta razão que a linguagem oral é tão importante quanto a escrita e a abordagem comunicativa foca na primeira. Prist (1999) destaca a importância da linguagem oral em detrimento da escrita ao afirmar que não basta saber conjugar os verbos irregulares e conhecer mais de 2 mil palavras para entender o noticiário da CNN, ou um americano falar rapidamente. No mundo de hoje da globalização, da televisão, da tv a cabo, da internet a linguagem falada assume um papel jamais desempenhado na história da humanidade. Não é o suficiente eu contar apenas com a habilidade sobre a língua e não saber a língua. Até mesmo por que através da escrita não sei como se pronuncia a palavra na língua estrangeira. A questão é que o americano diz “mitchu” e não “mitiu” e escreve meet you. A abordagem comunicativa diferente da abordagem tradicional não esta ligada a palavra nem ao texto e “não toma as formas da língua descritas na gramática como modelo para organizar as experiências de aprender uma nova língua” (ALMEIDA FILHO, 2002, p. 47).
Porém, é importante destacar que a escrita também faz parte do processo é muito mais proveitoso o aluno ter contato com a língua falada e a escrita simultaneamente, pois desta forma ele está trabalhando o input e quanto mais palavras ele souber melhor irá se comunicar oralmente. O ideal é haver a integração entre a oralidade e a escrita. Wilkins apud Almeida Filho (2002) coloca que a seleção de estruturas gramaticais é necessária sim, mas insuficiente em qualquer operação de ensino de línguas.
Percebe-se dessa forma que a abordagem comunicativa tem por objetivo a experimentação e o uso da língua estrangeira para o desenvolvimento da competência de uso desta. Na abordagem comunicativa de ensino, além de ser trabalhada a língua a ser aprendida, os aspectos culturais são outros fatores a serem destacados. Almeida Filho (2002) ao tratar disto afirma:
A aula de língua estrangeira como um todo pode possibilitar ao aluno não só a sistematizaçao de um novo código linguístico que o ajudará a se conscientizar do seu próprio, mas também, a chance de ocasionalmente se transportar para dentro de outros lugares, outras situações e pessoas. Esses clarões culturais conseguem às vezes marcar nossa percepção de maneira indeletável e para sempre (ALMEIDA FILHO, 2002, p. 28).
Brown (2000) destaca que é positivo ensinar aspectos culturais para os alunos, pois muitas vezes eles não conseguem entender o discurso na língua estrangeira por não partilharem dos valores dos falantes daquela língua. É por esta razão que muitas vezes ao assistir um seriado em língua inglesa muitos não entendem as piadas nem as expressões utilizadas pelos personagens, nem compreendem determinadas festividades e feriados dos norte americanos como o Halloween (dia das bruxas), Thanksgiven (dia de ação de gracas), dia de Martin Luther King, entre outros. Pelas razões acima citadas que Sophie Moirand (1982) destaca o aspecto socio cultural como um dos fatores para a aquisição da competência comunicativa.
Dessa maneira, percebe-se que a abordagem é um dos fatores responsáveis pelo sucesso ao se ensinar uma língua estrangeira sendo necessária à reflexão sobre a abordagem utilizada e principalmente a adoção de uma filosofia de trabalho não necessariamente única, é importante que se tenha consciência também de que o método precisa ser sempre repensado e principalmente, para que o ensino de língua inglesa aconteça de forma efetiva, é importate que o professor conheça as diferentes abordagens, assim como seus pontos positivos e negativos.